Primeiro brasileiro a presidir a Nissan do Brasil, Marco Silva assumiu o cargo em abril em pleno processo de preparação para a produção local do SUV compacto Kicks, modelo que traz novos e importantes rumos para a empresa no País.  Sem qualquer modéstia e consciente dos planos da Aliança Renault-Nissan para a região, Silva é sucinto e objetivo quando fala do futuro da montadora aqui:  “A Nissan veio para ser grande. Mas sem atropelos. Queremos crescer de forma consistente”. Na empresa desde 2015, quando assumiu a diretoria financeira da operação brasileira e depois passou a liderar a mesma área na América Latina – posição que acumula com o cargo de presidente –, Silva iniciou sua carreira na Delco, em Piracicaba (SP). Com mais de vinte anos de experiência no setor, a maioria dos quais na General Motors, o executivo já trabalhou na Venezuela, Coreia do Sul e China. Nesta entrevista exclusiva ao AutoIndústria, revela que nos próximos dois a três meses a Nissan definirá novo ciclo de investimento para o Brasil e região.

 

Por Alzira Rodrigues

Durante o lançamento do Kicks brasileiro o senhor deixou claro que a Nissan está aqui para ser grande. Como alcançar esse objetivo?

É um conjunto de coisas. Tem a planta de Resende (RJ), que consumiu investimentos de R$ 2,6 bilhões, e a Aliança Renault-Nissan que permitirá a produção da Frontier na Argentina, potencializando nossa capacidade de crescimento. Com a picape, serão quatro  modelos produzidos no Mercosul – no Brasil temos o March, Versa e agora o Kicks. Na América Latina há ainda a fábrica mexicana, onde são produzidos  Sentra, Frontier e Kicks.

Qual será o ritmo desse crescimento?

Crescer rapidamente é fácil, mas não é o que queremos. Desejamos crescer de forma consistente e isso requer consolidarmos o que já temos. Produtos são consequência de um planejamento maior. Estamos concluindo este ano um ciclo de investimento de cinco anos e dentro de dois a três meses divulgaremos novos aportes na região para o período 2018-2022.

Qual a importância do Kicks nesse cenário?

Grande! Fundamental para o nosso crescimento local e na região. Além de ser um modelo bem-sucedido no mercado interno – vendemos mais de 20 mil unidades importadas do México em quase um ano –, ele será estratégico para as exportações. Iniciamos a venda dos veículos brasileiros para os países da América Latina no ano passado e pretendemos quase dobrar o volume em 2017, para algo como 20 mil unidades. Da produção programada de 82 mil veículos/ano, entre 40% e 45% serão do Kicks.

Quando começará a produção da Frontier na Argentina?

Ainda no terceiro trimestre do próximo ano, em  linha da Nissan na fábrica já existente da Renault. Será um passo importante para o mecanismo de troca de produtos da marca na região. Começamos a exportar para aquele país em 2016 e, com a fabricação da Frontier lá, teremos como complementar a produção entre os dois países.

“Dentro do próximo ciclo

de investimento queremos

retomar a rentabilidade

e atingir a capacidade instalada”

 

Como se dará a Aliança Renault-Nissan por aqui?

São vários os projetos em nível global e no Brasil já operamos em conjunto na área de compras. Mas há novos planos para a região que podem envolver compartilhamento de produção, seja de plataformas, de motor ou transmissão. Estamos avaliando tudo isso.

A empresa tem conseguido operar com rentabilidade no Brasil?

O grande desafio hoje é justamente ter lucro. Ainda estamos amortizando nossos investimentos em Resende e o fato de termos ociosidade prejudica a rentabilidade. Nossa planta tem capacidade produtiva anual de 200 mil veículos e chegaremos a 82 mil com a introdução do segundo turno agora em julho. Já é um crescimento importante, de quase 50%, sobre as 55 mil unidades que produzimos em 2016.

Quando a capacidade total poderá ser atingida?

Em algum momento dentro do próximo ciclo de investimento de 2018-2022 queremos retomar a rentabilidade e atingir nossa capacidade instalada. Não dá, no entanto, para definir um momento. O que posso dizer é que a Nissan veio para ser grande e que o Brasil, mesmo com o mercado em queda, representa 45% de toda a região.

A crise política brasileira dificulta em que medida as ações e planos da Nissan?

Nós, em particular, estamos na contramão do mercado, investindo na contratação de 600 funcionários e na criação do segundo turno. O que vemos no momento, por causa das questões políticas, é uma inércia na economia. O mercado automotivo, em particular, está começando a se recuperar. É preciso, no entanto, ver até quando haverá fôlego para manter a recém iniciada curva de crescimento. A retomada efetiva dependerá de questões econômicas e da volta de confiança do consumidor. E sabemos que medidas econômicas precisam de suporte político. Temos de esperar os próximos acontecimentos, mas podemos garantir que estamos investindo porque acreditamos que o Brasil voltará a crescer.


Fotos: Divulgação/Nissan

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