Incisivo na crítica ao Inovar-Auto, José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors no Brasil, espera ansioso (e otimista) pelas novas diretrizes do Rota 2030, em fase de elaboração pelo governo. Não só porque a política industrial que está por vir deverá colocar um fim na cota de importação e, consequentemente, na sobretaxa de 30 pontos porcentuais nos veículos que entravam no País além do limite estabelecido de 4,8 mil unidades por ano, mas também pela discussão mais integrada entre todos os envolvidos no setor automotivo. “Deveremos ter mais igualdade para competir no mercado”, diz o empresário, assíduo participante das reuniões em Brasília (DF) como representante da Abeifa, a associação das importadoras, dos grupos de discussão. “Estou certo que o longo e rigoroso inverno está para acabar.”

Por Lael Costa

senhor tem se mostrado otimista com as novas diretrizes que estão por vir com o Rota 2030. O que se pode esperar delas?

Acredito que seja a isonomia. Na concepção do Rota 2030 há participação de todos os atores da cadeia automotiva, como nós, importadores. Não tivemos essa oportunidade no Inovar-Auto que, se trouxe algum benefício, ficou restrito às montadoras instaladas no País. Agora temos uma discussão mais ampla, com importadores, distribuidores, autopeças e fabricantes discutindo o que queremos para o setor. Os últimos cinco anos, no caso dos importadores, se tornaram um longo e rigoroso inverno, mas que está para acabar. Ano que vem o Rota 2030 coloca um fim no regime de exceção de cotas, como também deixaremos de ser sobretaxados. Já somos penalizados com uma alíquota de importação de 35%, a maior possível. Quando o carro importado entra no Brasil e paga por isso, deveríamos brigar de igual para igual, sem mais uma trava que nos impeça de trazer mais veículos para o País.

Com o fim das cotas, o segmento de importados terá capacidade de se recuperar de uma queda que já acumula mais de 80% nos últimos cinco anos?

Não dá para sonhar com os 199 mil veículos importados vendidos em 2011, mesmo porque o dólar era outro, de R$ 1,60. Hoje, com o dólar a R$ 3,30 já dá para pensar em dobrar as vendas no ano que vem e chegar a 60 mil unidades.

O mesmo se pode esperar da Kia?

Sem dúvida. O mercado está represado. Hoje, falta produto para o concessionário Kia. Já cheguei no limite da cota e é inviável trazer mais carros além das 4,8 mil unidades e continuar sendo competitivo. Devemos fechar o ano com cerca de 10 mil veículos vendidos e alcançar os 20 mil em 2018. Com a paridade tributária tenho certeza de que a Kia voltará a ter força.

O desempenho esperado também promoverá alguma recuperação na rede?

Sim. Perdemos presença importante em algumas praças. Não custa lembrar que a Kia vendeu 80 mil veículos em 2011 com 180 lojas. Hoje temos 100 pontos. A realidade é que o concessionário está sem produto para vender. Por causa da cota não consigo colocar mais do que três, quatro carros por mês em cada concessionária.

Com a expectativa de vendas melhores pode-se esperar também novidades no portfólio da Kia no ano que vem?

Já estão certas a nova geração do Picanto e as versões hatch e sedã do Rio. Mas também pensamos em trazer um novo SUV compacto, o Optima GDI e o esportivo Stinger.

No ano passado, o Grupo Gandini decidiu interromper a operação da marca Geely no Brasil. Há possibilidade de retomar as importações com a nova realidade que virá o ano que vem?

O dólar, a fraca demanda e a impossibilidade de trazer outros modelos fora da cota foram os principais motivos para suspender a importação, que foi em comum acordo com a matriz chinesa. Não quero afirmar, mas quando o mercado voltar à normalidade, porque não voltar a trazer os carros da marca?

O senhor nunca escondeu sua vontade em ter uma fábrica Kia no País. Essa possibilidade ainda está no seu horizonte?

É realmente um sonho meu e não deu certo, apesar das minhas conversas com os coreanos. Chegamos a ver inclusive terreno em Salto (SP) para isso. Mas ponderando hoje, ainda bem que não deu certo ao considerar pelo o que passou o Brasil de lá para cá. Posso dizer que ainda é sonho.


Fotos: Kia/Divulgação

Décio Costa
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