Por Lael Costa

A Iveco comemora 20 anos de atividades no Brasil com lançamentos importantes e anúncio de investimento de US$ 120 milhões, especialmente para o desenvolvimento de novos produtos. Em entrevista exclusiva ao AutoIndústria, Ricardo Barion, diretor de marketing da montadora de Sete Lagoas (MG), diz que a empresa atravessa uma fase transformadora, com estratégias mais consistentes para trazer de volta um cliente perdido em algum lugar do passado. A fabricante já teve bem perto dos 10% do mercado de caminhões e hoje possui em torno de 4%. “Demos um passo para trás, para poder dar dois, três para frente e fazer o certo daqui em diante.  Nosso desafio agora é entregar o produto para o cliente da forma que ele reconheça que temos um dos melhores do mercado.”

 

Diversos representantes da indústria de caminhões já falam em crescimento de 20% no ano que vem. Qual é a sua expectativa?

Os dois últimos anos foram bem difíceis para todo o mercado e para a Iveco não foi diferente. Em 2015 achamos que tínhamos alcançado o fundo do poço, mas piorou. No fim de 2016, novamente, o que parecia não ter como piorar, piorou. Em janeiro de 2017 tivemos queda de 30%. Agora estamos em uma situação melhor, estimamos chegar ao fim deste ano com uma pequena diferença em relação ao ano passado, com uma queda de 2%. Mas a reação veio ocorrendo, o emplacamento diário vem aumentando e o segundo semestre demonstra que ficaremos no zero a zero em relação ao ano passado. Diante do que passamos, o dado é positivo. Também indicadores como inflação, índice de confiança, indústria e consumo já demonstram recuperação. Tem um fato mais interessante que percebemos na Fenatran: o humor é outro. No ano passado, o cliente não acreditava na melhora do ambiente. 

É o tal descolamento da economia da política?

É a sensação que se tem. O que acontece em Brasília não deve mais afetar o cliente, porque o País precisa girar.

Retomando, a Iveco já trabalha com um número para 2018? 

Nossa projeção é que em dezembro de 2018 será o mesmo mercado de caminhões de 2015 (71,6 mil unidades). Estimamos crescimento em torno de 18%.

Mas o ano que vem tem eleição que pode novamente polarizar o País e jogar a confiança do empresariado para baixo.

O risco sempre existe, porém, mais para 2019 do que para 2018. A depender do nome que despontar a variação cambial é a que pode ser mais afetada por causa da política, afetando exportação e importação de componentes. Importante é que o futuro nome preserve as diretrizes da economia. A equipe econômica tem tanta credibilidade hoje que se o candidato não der sinais de que vai mudar, ou radicalizar, não muda nada, pelo contrário traz mais otimismo. 

Há notícias de grandes empresas indo às compras de caminhão. Há o risco de o movimento ser pontual, apenas uma fase temporária para renovar aquela frota adquirida durante o subsídio do PSI?

Realmente grandes clientes estão renovando frota. O que não temos visto é o varejo vir às compras, que ainda espera a economia do País melhorar para ter mais frete. O subsídio do passado foi uma ilusão. Com ele chegamos a estimar um mercado de 250 mil caminhões para 2015. Na época, fazia sentido o transportador comprar, mas a economia despencou e muito caminhão ficou parado ou foi canibalizado.

Mas para o varejo vir às compras também é importante ter crédito.

Sim e também a inadimplência se mantém alta e o dinheiro ainda está caro. Mas a taxa Selic, que em janeiro deve chegar aos 7,5%, começa a ficar atrativa. O transportador começa a planejar e perceber que não vai mudar muito do que se vê hoje. O grande frotista já percebeu isso. O varejo está muito ligado ao dia a dia, ao crédito, não volta tão rápido quanto o frotista.

A Fenatran se mostrou como um termômetro para a reação do mercado?

Tem relação com o humor que citei. Percebemos que o cliente está disposto a fazer negócio. Toda Fenatran tem um cunho institucional e de varejo. Essa edição foi 70% varejo e 30% institucional. O evento vai ficar marcado como a Fenatran da retomada. E vai ser bom para o ano que vem, mesmo com a eleição, o humor melhorando e a economia voltando, o segmento volta. Não é a retomada que desejamos, não daremos um salto, voltaremos ao mercado de 2015. Não adianta esperar um mercado de 150 mil caminhões. 

Mas qual seria o mercado ideal?

O mercado médio, incluindo renovação e sem medidas de subsídios ou outra medida fora do comum, é de 120 mil unidades. É um mercado sustentável. 

Mas o que fazer com a capacidade produtiva instalada?

Isso é um problema. Calculamos um parque de 420 mil unidades anuais se somarmos os três turnos. Quando a indústria produziu quase 200 mil, em 2013 se estava investindo em capacidade produtiva. Hoje, 200 mil é um número alucinante. Acho que a indústria exagerou na dose. Pode ser que chegue a muito mais, mas não será a curto prazo e terão de ser tomadas outras medidas de impacto na economia. 

A exportação, que vem crescendo, é a maneira de manter as fábricas ocupadas.

Quando o mercado brasileiro estava consumindo nos voltamos para cá e esquecemos dos outros. A volta das exportações é um bom legado da crise. Temos que olhar para a América Latina e temos produtos competitivos para a região.

Quando a Iveco chegou a o Brasil tinha um número mágico de 10% de participação de mercado. Em um determinado momento a empresa chegou a ter essa fatia. Hoje, no entanto, tem por volta de 4%. Com a reformulação na rede e os novos produtos recém-lançado, os 10% ainda estão na mira?

Demos um passo para trás, para dar dois, três para a frente. Uma empresa como a Iveco precisa ter estratégias mais sustentáveis e de longo prazo, precisa buscar mais credibilidade junto ao cliente. O negócio não é só chegar a ter 10%, mas sustentar os 10%. Meta tem que ser interna, da empresa. Acho um erro divulgar o quanto a empresa quer do mercado. Estamos em um momento transformador da história da Iveco no País, dar um passo para trás e fazer certo daqui para a frente. Nosso desafio agora é entregar o produto para o cliente da forma que ele reconheça que temos um dos melhores do mercado. Esse talvez seja o maior objetivo da Iveco aos 20 anos.

Os US$ 120 milhões anunciados para produtos não pavimenta o caminho para recuperar os 10%?

Temos desafios diferentes em todas as linhas de produtos. Minha meta é sustentar a liderança de mercado no chassi 3,5 toneladas. Está nascendo a Daily City, mais adequada para cidades grandes, que com ela queremos crescer especialmente no segmento de furgão, ao entregar produto mais leves e adequados. Com o fim do Vertis, ficamos com um buraco entre 8 ou 13 toneladas, lacuna que representa 30% do mercado, ou seja, estava competindo em 70%. Até o fim do ano que vem estamos voltando com produto mais adequado às necessidades do cliente. Depois, a Iveco está conseguindo padronizar o portfólio com peças em comum, o que obviamente aumenta a competitividade pela redução nos custos. Apostamos também muito no Tector Auto-Shifit porque, na nossa opinião, é a melhor solução de caminhão automatizado. O caminhão dará muito resultado no ano que vem, porque nossa estimativa indica que 50% do mercado de 6×2 seja automatizado e a Iveco estava fora disso. Depois, nos pesados fizemos uma reformulação forte no ano passado no trem de força com foco em desempenho e consumo. Agora, com o mercado voltando, temos a oportunidade de pulverizar esse produto e colocar na mão dos clientes para conhecerem melhor.


Foto: Iveco/Divulgação

 

Décio Costa
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