Por George Guimarães| george@autoindustria.com.br

A confirmação de que a Fiat, sem avisar o mercado, deixou de produzir o Palio, o veículo mais importante da história da empresa aqui — lançado em 1996 como o primeiro “carro mundial” da marca, com direito a evento internacional que reuniu mais 1 mil jornalistas de dezenas de países em Minas Gerais —,  é apenas parte do “carrocídio” que a montadora vem promovendo em sua linha de produtos ao longo dos últimos dois anos.

Uma importante motivação para isso, até mais do que a própria natural atualização do portfólio, é o processo de transformação da quarentona Betim (MG) em uma fábrica modelar da chamada indústria 4.0. Ou seja: casa nova, bem mais moderna, produtos igualmente novos.  Por isso, a recente chegada do Argo e a proximidade de outras tantas novidades em 2018, 2019…

Portanto, não havia mesmo mais espaço físico nem, digamos, tecnológico para Linea, Bravo, Siena, Idea, Punto e, por  último, o próprio Palio, todos devidamente aposentados sem o mínimo alarde por parte da montadora.

O que parece ser um hábito recente, afinal, em tempos idos, carros tão representativos como o Palio mereciam despedidas bem mais honrosas, reverências com direito a derradeira série especial e foto da última unidade na linha de montagem. Basta lembrar dos episódios que cercaram, por exemplo,Volkswagen Kombi e Fusca, sem falar dos Chevrolet Opala e Monza.

Mas mesmo com a limpa feita de 2016 até agora, hoje ainda saem de Betim impressionantes oito modelos: Argo, Mobi, Uno, Grand Siena, Weekend, Doblò, Fiorino e Strada.  É bastante, mas bem menos do que os quatorze veículos que compartilhavam as linhas de montagem dois anos atrás, com a correspondente complexidade produtiva gerada também por centenas de versões.

Será natural, assim, que pelo menos mais dois ou três veículos engordem a lista dos aposentados da Fiat no curtíssimo prazo. Uma boa dica dos mais sérios candidatos são os emplacamentos dos últimos meses.  Pelos números do Renavam divulgados pela Fenabrave, Weekend e Doblò encabeçam essa indesejável disputa.

Os dois modelos, inclusive, foram dados como fora de linha há pelos quatro meses por vários órgãos de imprensa. Pois eles seguem vivos, ainda que com produção e vendas baixíssimas, em especial a station wagon, que reinou absoluta no segmento ao longo de duas décadas e criou uma legião de fãs ao inaugurar  a onda “aventureira” em modelos convencionais brasileiros.

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Em janeiro foram emplacados 422 unidades do Doblò e somente 148 da Weekend — três vezes menos do que a atual única concorrente station wagon média VW Spacefox.  É bom recordar que a rede Fiat tem cerca de seiscentas lojas, o que dá a proporção de uma station wagon vendida para cada quatro concessionárias.

Ao longo de todo o ano passado, mesmo com a recuperação do mercado interno, foram negociados pouco mais de 5,1 mil monovolumes e 3,5 mil station wagons. Média arredondada de, respectivamente, 8,5 e 6 unidades para cada revenda ao longo de doze meses.

O tombo mercadológico anual da perua é bem mais expressivo. Enquanto o Doblò, que conta com a inestimável  versão de trabalho Cargo para manter volumes, registrou 8,8 mil emplacamentos em 2015 e 6,3 mil em 2016, a Weekend somou 10,9 mil e 7,3 mil nos mesmos períodos. Ou seja: em apenas dois anos, a station wagon vendeu 70% menos.

Consequência também da ascensão dos utilitários esportivos e do encolhimento do próprio segmento de station wagons no mercado interno.

Apenas para ficar na  mesma base de comparação, e em período mais recente,  entre station wagons médias e grandes, as vendas nacionais passaram de 19 mil unidades em 2015 para 6,5 mil unidades de cinco modelos no ano passado, com a representante da Fiat respondendo por  63% do total e a VW Spacefox por outros 36%. Sim, os demais três modelos, todos importados e de alto luxo, somaram marginais 875 unidades vendidas.

Como a Fiat não será a única a remar contra a maré apenas por mero capricho de ter uma station wagon em sua linha, a empresa já estaria em estágio avançado de desenvolvimento de um utilitário esportivo derivado da picape Toro a ser apresentado ainda este ano. Mas esta, assim como o recente fim de vários de seus modelos, é outra história que a montadora não confirma oficialmente. Ainda.


Fotos: Divulgação/Fiat

 

 

 

George Guimarães
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