Do ranking da Fenabrave dos 40 utilitários esportivos mais vendidos no Brasil em janeiro não consta o Renault Captur. O quadragésimo da lista é o Mercedes-Benz GLE, caríssimo modelo de luxo que alcançou 67 unidades licenciadas. Ou seja, o SUV da Renault, que custa no máximo R$ 165 mil, na prática, desapareceu do mercado.

Esse “sumiço” verificado no primeiro mês de 2023, entretanto, não é episódico. Desde meados do ano passado as vendas do Captur estão na casa de poucas dezenas de unidades por mês. A média mensal do último trimestre ficou em meros 64 licenciamentos para uma rede aproximada de 300 concessionárias.

Lançado em março de 2017 como produto superior da linha nacional, sobretudo pelo estilo ainda hoje atual, o Captur, na verdade, nunca chegou a ser destaque do segmento, e nem mesmo dentro da marca. Ao longo desses seis anos, acumulou pouco mais 91 mil unidades vendidas no mercado interno.

Seu melhor resultado anual é o de 2019, com quase 28,7 mil licenciamentos, única vez que superou, e por bem pouco, seu irmão mais barato Duster. Mas mesmo assim,  seus números equivaleram a menos da metade do então líder entre os SUVs, o Jeep Renegade.

Desde então, porém, o Captur entrou em forte declínio comercial. Já no ano seguinte, vendeu apenas 10,9 mil unidades contra 19,5 mil do Duster. Em 2021, a comparação foi ainda mais perversa — 8,3 mil contra 22,4 mil do irmão — e no ano passado o derradeiro sinal de que caminha rápido para encerrar sua trajetória na fábrica de São José dos Pinhais.

Mesmo tendo ganhado um novo e eficiente motor 1.3 turbo flex em meados do ano anterior, em 2022 somente 3 mil unidades chegaram às ruas e quase 80% do total negociadas no primeiro semestre.

Esse abrupto tombo tem menos a ver com as virtudes ou não do Captur, com o ritmo do mercado ou com o avanço da concorrência do que com um fator externo inimaginável há pouco mais de um ano: a guerra entre Ucrânia e Rússia.

O conflito forçou a Renault a encerrar em maio sua presença no mercado russo, segundo maior do grupo em 2021, então atrás apenas da França.

Além de abrir mão de participação majoritária na Avtovaz, fabricante dos veículos Lada, a Renault passou adiante todo o parque industrial e produção local de seus modelos, dentre eles … o Kaptur.

Sim, lá o SUV tem o nome grafado com “K”, talvez a diferença mais relevante para o veículo feito no Paraná. Ambos,  Kaptur e  Captur, além da plataforma presente no Duster, compartilhavam diversos componentes feitos na Russia e países vizinhos.

Sem o SUV russo em linha o fornecimento para o modelo brasileiro também ficou comprometido. E muito! Não por coincidência, a oferta e vendas do Captur praticamente foram interrompidas a partir de julho.

Já não é fácil encontrar nas revendas as versões de entrada, com preços a partir de R$ 143 mil. Algumas concessionárias afirmam que não são mais produzidas.

O estoque da topo de gama Iconic também é quase inexistente e ainda assim vendedores ofereceram à reportagem desconto da ordem de 10% sobre o preço sugerido de R$ 165 mil.

Consultada por AutoIndústria, a Renault do Brasil assegura que o Captur segue ainda em produção, apesar de admitir a dificuldade para produzi-lo devido à falta de componentes. Afirma, entretanto, que continua buscando soluções para contornar o desabastecimento da linha de montagem.

É uma resolução difícil, de qualquer maneira. A substituição das autopeças importadas implicaria em rápido desenvolvimento de fornecedores no Brasil ou região e um produto de volume de vendas reduzido e que já ultrapassou a meia-vida de mercado dificilmente estimulará fornecedores a investir.


Fotos: Divulgação

George Guimarães
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