Por Joel Leite

carros compartilhadosCaminha a toque de caixa a tendência do automóvel passar a ser um item de uso e não mais de propriedade. O Brasil, pelas características da sua população e pelo o que o carro significa para o seu proprietário, pode levar um tempo a mais para entrar de cabeça nesse novo modo de utilização do carro, mas não vai ficar na contra mão dos mercados maduros, especialmente a Europa, onde o carro compartilhado já é hábito e cada vez mais pessoas estão deixando de investir no produto, utilizando apenas o serviço.

 Afinal, por que investir R$ 50 mil , R$ 100 mil , R$ 200 mil num carro, pagar seguro, manutenção, perder dinheiro na hora da revenda se você pode simplesmente alugar um e se livrar de todos os problemas que constituem a propriedade do veículo?

O uso do automóvel será um serviço como é hoje a internet,  celular,  TV, ou seja, uma assinatura. Você paga uma mensalidade e tem o serviço. Quando não quiser mais, encerra o contrato.

O novo modo de uso do carro muda a relação das montadoras com o mercado. As vendas estão migrando rapidamente para vendas diretas, isto é, para empresas locadoras de veículos, frotistas e pessoa jurídica em geral. Muda também, portanto, a intermediação da venda, reduzindo a importância da rede de concessionárias e, assim, o custo.

 Outro aspecto relevante no novo modelo de operação é a importância do valor de revenda, ou o que se chama de valor residual. Se para o consumidor comum o índice de depreciação do carro já é um forte fator de decisão de compra, para frotistas esse item é visto como de vital importância na opção pela compra de determinada marca ou modelo.

Nada menos do que onze, dos 16 maiores mercados da Europa já vendem mais da metade dos carros para frotistas, isto é, o consumidor comum já é minoria. O Brasil não fica muito atrás. Em 2017 as vendas diretas das montadoras para pessoas jurídicas beiraram os 40%, o equivalente a 869 mil unidades.

Todo o aumento de 9,4% do mercado em 2017 (cerca de 200 mil unidades a mais do que em 2016) pode ser creditado às vendas para pessoas jurídicas. Portanto, se não fosse a venda direta, o mercado teria estagnado em 2017.

A venda direta não reflete necessariamente o valor da marca, a preferência do consumidor, o investimento em campanha publicitária. É resultado de uma ação mais prática do fabricante junto ao mercado. Grandes frotistas são parceiros das montadoras, oferecem garantia de compra e por outro lado são beneficiados com desconto no preço do carro.

Em resumo: a montadora garante a venda, a locadora paga mais barato e a rede de concessionárias perde, porque seu papel nesse contexto fica reduzido à entrega do carro. A arrecadação também diminui, porque pelo menos 30% das vendas diretas são para taxistas, produtores rurais e pessoas com deficiência, que têm isenção fiscal.

Se o carro está cada vez mais voltado para empresas, isso muda também o approach do marketing das montadoras. Com a preocupação de ampliar o valor revenda, elas estão mais atentas a manter a estrutura do veículo por um período maior, uma vez que, como se sabe, a mudança de linha é um fator de redução do valor de revenda no mercado de usados.

Assim, as fábricas estão prolongado a vida dos modelos no que se refere a design e motorização, embora não possam abrir mão das melhorias tecnológicas, que chegam cada vez mais rapidamente e são fundamentais para oferecer esse diferencial ao consumidor.

Uma nova marca chinesa, Lynk, que pertence à Geely (dona da Volvo), fez um tremendo sucesso ao abrir o livro de reservas do seu primeiro modelo: as reservas se esgotaram ao ritmo de 45 unidades por segundo.

Alain Visser, vice-presidente da empresa, disse que a filosofia da nova montadora é estabelecer novos parâmetros culturais de venda e de patrimônio do veículo. Ele se refere à forma de uso do carro:  

“Queremos romper as barreiras da propriedade dos veículos. Nossa política de preços fixos, modelo de assinatura, conectividade gratuita e garantia vitalícia, eliminam os detalhes chatos e complicados, permitindo que o cliente se concentre na parte divertida do carro”.

 A Volvo na Europa já oferece seus carros por assinatura de fábrica. A tabela de preços públicos prevê pagamento à vista, financiado ou  sistema de assinatura, um aluguel que  pelo que engloba tambémo todas as despesas de manutenção e seguro.

Algumas montadoras, como Ford, Chevrolet e Daimler, já atuam em serviço de car sharing, pelo qual o cliente usa o carro quando for necessário e o devolve à prestadora do serviço no destino ou no ponto de retirada.

A Porto Seguro já tem um sistema de assinatura oferecido  no Brasil. O assinante usufrui do bem sem arcar com as despesas e as tarefas de documentação, licenciamento, impostos,  IPVA, seguro de acidentes, seguro obrigatório, emplacamento, manutenção e ainda o custo de compra do veículo e a depreciação que ele vai sofrer após um ou dois anos. Paga a mensalidade e nada mais. No encerramento do contrato, o cliente pode fazer a renovação e escolher um carro novo.

  Os fabricantes entenderam que precisarão se reinventar para sobreviver. E como parte desta reinvenção, estão experimentando novos modelos de negócio, como o desenvolvimento de tecnologias e prestação de serviços. A pessoa aluga o carro por horas ou minutos, devolvendo imediatamente, de forma que o carro não fica , otimizando a sua utilização.

    Essa modalidade permite que o cliente também use um carro diferente quando quiser, optando por um modelo básico ou um luxuoso dependendo da atividade que vai exercer.

* Joel Leite é jornalista, palestrante e criador da Agência AutoInforme, agência especializada no setor automotivo

George Guimarães
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