A Renault escolheu como slogan do Kardian, seu novo SUV compacto produzido no Paraná, “a mudança que muda tudo”. Mais do que uma assinatura publicitária, a frase deve sintetizar a esperança da marca de voltar a ser protagonista do maior segmento de vendas do mercado brasileiro.

Depois do sucesso na década passada do pioneiro Duster, lançado em 2011, e da modestíssima trajetória do topo de gama Captur, modelo já fora de linha desde o ano retrasado, a Renault precisa mesmo mudar quase tudo.

Há tempos, apesar das sensíveis e relevantes melhorias estéticas e técnicas, como a adoção do motor turbo, o Duster tem vendas limitadas. No ano passado, foi apenas o 12º SUV médio mais vendido, com 26,5 mil licenciamentos, menos da metade das 59,1 mil unidades do líder Jeep Compass.

Com esse desempenho do até então seu único representante, a Renault deteve somente 3,4% do segmento que, sozinho, responde por 45% de todos os carros de passeio vendidos no País. Portanto, a falta de fôlego de vendas nos SUVs é uma âncora que puxa a participação total lá para baixo.

Explica-se em boa medida, assim, o porquê de a Renault colher penetração decrescente nos últimos três anos e cair para a sétima colocação entre as marcas mais vendidas, depois de cravar 9% e a quarta posição em 2019, seu melhor desempenho desde que começou a produzir aqui, em 1998.

No ano passado, os veículos Renault

foram a opção de somente 5,8% dos consumidores brasileiros

O Kardian, já a partir desta semana nas concessionárias, tem, de fato, portanto,  a missão de elevar esse porcentual e, bem mais, fazer novamente da Renault uma marca generalista em carros de passeio, preenchendo a grande lacuna hoje existente entre o seu modelo de entrada Kwid e o próprio Duster.

Isso porque os intermediários Sandero e Logan praticamente estão fora do mercado e a Renault não demonstra qualquer entusiasmo com relação a eles, a julgar pelos muitos meses de vendas em forte declínio e nenhum investimento no hatch e sedã, que, embora a montadora ainda negue, a exemplo do que ocorreu com o Captur – sepultado sem nenhuma despedida – já cumpriram seu papel no Brasil.

Os números só referendam essa percepção. Em 2023, a marca acumulou 126,3 mil licenciamentos, 23,5 mil dos quais comerciais leves. Kwid e Duster, somados, responderam por 89,8 mil unidades. Couberam a Sandero e Logan, os 12,4 mil emplacamentos restantes, ou apenas 10% do total, com ambos bem atrás em seus respectivos segmentos.

No primeiro bimestre, a dupla cravou somente 1,1 mil unidades das 17,3 mil negociadas pela Renault. Menos até do que as 1,2 mil dos dois primeiros meses do ano passado, dentro de um mercado que cresceu 22,8% e com a Renault avançando perto de 20%.

Assim caberá ao Kardian, que tem três versões dotadas do novo motor TCe 1.0 turbo flex de 125 cavalos e preços sugeridos entre R$ 112.790,00 e R$ 132.790,00, acelerar o caminhar e o equilíbrio do andor das contas da marca e especialmente de seus revendedores, que trabalham com linha de produtos diminuta frente à concorrência há bom tempo.

Renault Kardian

Pelo menos neste ano, já que a Renault declara que o SUV, projeto que consumiu declarados R$ 2 bilhões, é apenas o pontapé inicial de uma nova fase da empresa no mercado brasileiro e sul-americano e que tem como princípio uma nova plataforma.

Ele estreia na região a RGMP, Renault Group Modular Platform— aplicada para os segmentos B, caso do Kardian, C  e em comerciais leves — e com ela o Renault International Game Plan 2027, plano estratégico da montadora para os mercados internacionais e que prevê o lançamento de outros sete novos modelos nos próximos três anos.

O segundo deles, reafirmou Ricardo Gondo, presidente da Renault na América Latina, durante lançamento do Kardian nesta terça-feira, 19,  em Gramado, RS, será outro SUV, que deve aportar nas lojas em 2025. Do segmento C, naturalmente colocará fim na trajetória do Duster, montado sobre a antiga platafora CMF-B,  presente também no Sandero e Logan.

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O projeto do próximo SUV e melhorias produtivas na fábrica do Paraná consumirão outros R$ 2 bilhões, segundo Gondo, e completarão o atual ciclo de investimentos da Renault no País. Iniciado em 2021, com a introdução do motor TCe 1.3 turbo flex, com o qual o novo 1.0 turbo do Kardian compartilha 70% dos componentes, somará, portanto, R$ 5,1 bilhões em quatro anos.

Novo e amplo portfólio nacional 

A RGMP foi concebida também para motores com sistemas híbridos, mesmo plug-in, e propulsão elétrica. Pode dar origem a veículos com 4 a 5 metros de comprimento, quatro medidas de entre-eixos entre 2,6 e 3 metros, e três para a seção traseira, além da largura da bitola que pode variar entre 1,53 a 1,6 metro.

Na prática, deixará a Renault livre para encontrar a melhor equação de mercado em termos de oferta de produtos e segmentos, muito diferente da atual disponibilidade e que apenas começa a ser alterada com a chegada do Kardian.

De imediato, Aldo Costa, diretor de Marketing, informa que cerca de 2,3 mil unidades já foram encomendadas no período de pré-venda que se encerra no dia 21. Sobre número de vendas e participação do mix de versões do Kardian, o executivo diz não ser prática da montadora revelar suas projeções.

Mas Costa assegura: “Estamos preparados para atender qualquer que seja a demanda do mercado”.


Foto: Divulgação

George Guimarães
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