Representantes do segmento de caminhões só enxergam a retomada consistente do mercado com regras claras e duradouras

Por Lael Costa

Previsibilidade e competitividade, especialmente a falta delas, são os adjetivos mais usados (e não é de hoje) pelos atores do setor automotivo para apontar saídas capazes de levar a indústria a um patamar superior, ombro a ombro com as condições e os processos de países maduros. Não foi diferente do manifestado em meados de junho no Seminário Caminhos para Retomada, evento realizado pela Anfavea em São Paulo, que reuniu representantes dos diversos elos da cadeia, principalmente do segmento de caminhões.

No encontro, organizado como proposta para debater recursos com força para reverter a atual situação em que se encontra o mercado de veículos pesados, com queda nas vendas acumuladas superior a 19% e capacidade ociosa que beira os 80%, mais uma vez o consenso se resumiu em ter regras claras e duradouras, além de dispositivos que promovam poder para competir no ambiente global.

“Previsibilidade é fundamental”, resume Fabiano Todeschini, presidente da Volvo Bus Latin America. “Esse é o momento para recompor o segmento com uma política de estado que ofereça visão de longo prazo, mas que também seja simples, porque burocracia não colabora em nada.”

O vice-presidente da Iveco para América Latina, Marco Borba, endossa análise do colega da Volvo e acrescenta que a Rota 2030, a próxima política industrial em substituição ao Inovar-Auto, precisa estar acima do governo, “não pode mudar a cada quatro anos. Hoje temos dificuldade em saber as regras de financiamento de caminhões no curto prazo”, desabafa. “Depois não dá para exportar tanto imposto quanto exportamos. Nos últimos anos o produto brasileiro ganhou uma aceitação que não tinha em outros mercados. Não podemos perder isso.”

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, lembra que os erros do passado servem de lições para o que vem pela frente. “Quando vivíamos aquele mercado crescente de alguns anos atrás, priorizamos o interno e esquecemos o externo. Também fechamos o país e se seguirmos mais uma vez esse caminho vamos acabar com a indústria nacional. Quero o Brasil inserido no mundo moderno, não como está hoje na UTI e com ele o setor de caminhões”, enfatiza.

Certeza – A ideia da retomada do mercado de veículos pesados, no entanto, é tão certa quanto a necessidade de regras claras para o longo prazo. O nebuloso é saber quando. “A instabilidade do País ainda promoverá um cenário volátil por algum tempo”, acredita João Pimentel, diretor da operação Ford Caminhões. “As grandes obras de infraestrutura não voltarão tão cedo e o empresário ainda deve postergar compras pela falta de confiança.”

Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, porém, resume de maneira mais simples, apesar das considerações impostas pelas condições do ambiente econômico: “O governo tem que deixar a gente trabalhar sem que haja surpresas no meio do caminho. Ninguém aguenta mais esperar ações do governo que vêm.”

E sem esperar, um suspiro de retomada já pode ser sentido no ar, pelo menos para Michael Kuester, presidente da DAF Caminhões. “Apesar da situação dramática, o momento é positivo porque o comprador quer comprar e, mais importante, sem os generosos subsídios de passado recente.”


Fotos: Divulgação/ Mercedes-Benz

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