A Anfavea apresentou nesta terça-feira, 10, potenciais cenários para a evolução da motorização veicular no Brasil até 2035 e que têm como premissa a descarbonização da produção e frota de veículos.

Segundo a entidade que congrega os fabricantes de veículos, o Brasil pode se aproveitar de “avalanche de oportunidades” que surgirá nos próximos 15 anos para estabelecer um novo ciclo de desenvolvimento da indústria automobilística local, que poderia  envolver investimentos de R$ 150 bilhões no período.

Em evento que reuniu virtualmente representantes do poder público, empresas e associações ligadas ao setor automotivo, ficou claro que, antes de tudo, a descarbonização da produção e da frota brasileira de veículos — e por quais meios ela se dará — acontecerá com maior ou menor velocidade a depender de políticas públicas “verdes”, como prefere nomear Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, os estímulos governamentais.

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Ele cita, como exemplos, impostos menores, descontos em financiamentos, isenção ou redução do valor de pedágio ou de rodízio em grandes centros menores para veículos mais limpos. “Com certeza, o custo disso seria bem menor frente os benefícios da descarbonização”, pondera.

“A Anfavea lidera esse debate inadiável, pois a indústria automotiva precisa saber como direcionar seus investimentos para as próximas gerações de veículos e para inserir o Brasil nas estratégias globais de descarbonização”, afirma Moraes.

A argumentação da Anfavea se baseia em estudo do do BCG, Boston Consulting Group, que apontou prováveis cenários para o País até 2035.

O primeiro, batizado de Inercial, seria alcançado com a descarbonização pautada pelo ritmo atual, sem novas medidas governamentais coordenadas com os setores envolvidos para a eletrificação e com a continuidade apenas dos atuais programas de reduções de emissões e de incentivo a biocombustíveis.

Nele, veículos eletrificados, compostos pelos puramente elétricos e os híbridos, poderão representar 12% das vendas internas em 2030 e 32% cinco anos depois, contra menos de 1% hoje.

Na Europa, levando em conta exigências normativas e os já anunciados programas de investimentos em produtos e infraestrutura, essas tecnologias estarão presentes em 90% dos veículos em 2030 e na totalidade deles em 2035, sendo carros puramente elétricos 60% do total.

A distância entre essas duas potenciais realidades, entende a associação, poderia ser diminuída com medidas que propiciem à indústria brasileira e setores coligados acompanharem os movimentos que estão sendo encaminhados em polos mais desenvolvidos, ainda que com oferta e demandas energéticas diferenciadas.

É o chamado cenário de Convergência Global, com as operações locais das montadoras podendo seguir diretrizes mundiais de descarbonização. Os veículos eletrificados, neste caso, chegariam a deter 22% das vendas no fim desta década e 62%, algo próximo de 2,4 milhões de unidades, em 2035.

“Não vejo como atendermos esse universo de consumidores apenas com tecnologias e produtos importados. E isso considerando apenas o mercado interno. Portanto, precisaríamos mudar a indústria, processos e produtos, investir em infraestrutura e até mesmo visar a fabricação de baterias e semicondutores para não dependermos tanto da Ásia”, enfatiza Moraes.

Para dar conta de um parque circulante de eletrificados que somaria 3,4 milhões de veículos em 2035, o estudo calcula a necessidade de cerca de 150 mil carregadores espalhados pelo País. Só para essa rede, que consumiria 7,2 GWh, 1,5% de toda energia gerada no Brasil atualmente, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 14 bilhões.

No total, levando em conta ainda o desenvolvimento e ampliação dos biocombustíveis, sobretudo do etanol em motores híbridos e até em células de combustível, a Anfavea estima que todo o processo descarbonização poderia promover um ciclo de investimento onze vez maior.

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Estão incluídos no cálculo o desenvolvimento e introdução de novas tecnologias também para veículos pesados, como o gás natural e o HVO, diesel de origem vegetal, além de eletrificação para aplicações específicas.

É a terceira possibilidade da descarbonização: apostar ainda mais alto nos biocombustíveis, aproveitando todo o expertise acumulado em décadas desde o Proálcool. Com um lugar no pódio mundial dessas tecnologias, a indústria poderia expandir suas fronteiras de atuação, replicando-as em outros mercados. Células de combustível a etanol, por exemplo, já são objeto de estudos de montadoras e instituições de pesquisa públicas e privadas.

“Outros países já definiram suas metas de descarbonização, bem como os caminhos para se chegar a elas. O Brasil não pode mais perder tempo”, reforça Moares.


Imagem: Pixabay

George Guimarães
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