Líder dos mercados sul-americano e brasileiro em seu primeiro ano, a Stellantis já tem traçado detalhado roteiro de movimentos para se manter à frente das vendas de veículos na região. O principal deles é um pacote de lançamentos de 16 veículos de produção local, 28 reestilizações dos atuais modelos em linha e a chegada de 7 veículos híbridos elétricos aos países da região, onde a Stellantis trabalha com sete marcas — cinco delas no Brasil.

Todas as novidades estarão nas ruas até 2025 — as primeiras já a partir deste ano, como uma nova versão da picape RAM, o segundo SUV da Fiat e, já nas próximas semanas, a nova geração do Citroën C3, fabricada em Porto Real, RJ.

Em entrevista nesta sexta-feira, 4, Antonio Filosa, CEO da empresa na América Latina, não forneceu muito mais informações sobre esses 51 projetos que estarão sendo encaminhados nos próximos três anos. Admitiu, porém, que dentre eles estão três picapes, uma delas a já conhecida Peugeot Landtrek, ainda não presente no Brasil, o principal mercado da região.

Segundo a Stellantis, o segmento de picapes foi responsável por 18% das vendas de veículos leves na América do Sul em 2021 e deve manter esse índice nos próximos três anos. Ficará atrás apenas dos SUVs, que já respondem  por 34% e chegarão a 38% dos emplacamentos, e dos hatches, que representam hoje 25% dos licenciamentos, mas que cairão 1 ponto porcentual até lá. Os sedãs também perderão espaço para os  SUVs e até maior: passarão de 15% para 13%.

Antonio Filosa - FCA - foto: leo lara

Filosa: aposta inicial em híbridos leves nacionais.

Diante desse cenário, consta do plano exibido por Filosa o seguinte desafio para a RAM: “Fortalecer a presença da marca na América do Sul, alavancando vendas e introduzindo novos modelos”.  O executivo acrescentou bem mais ao admitir que, para isso, a empresa estuda, sim, a produção no Brasil das picapes de origem norte-americana.

“A RAM é uma marca de nicho por pouco tempo. Acredito que ela poderá fazer  aqui o que a Jeep já fez”, disse o executivo, citando a rápida ascensão da segundo marca do grupo mais vendida no Brasil e que já domina cerca de 8% das vendas de automóveis, mesmo  com somente três modelos nacionais e de faixas superiores do mercado.

Filosa também admitiu que a montadora já trabalha no desenvolvimento de veículos híbridos a álcool para o mercado brasileiro e que um primeiro produto com a tecnologia deve estar no mercado em 2025. Ele calcula, entretanto, que vendas mais expressivas de híbridos e elétricos no Brasil devem se consolidar somente a partir de 2026 ou 2027.

A aposta inicial da Stellantis no segmento, deixou transparecer Filosa, se dará sobre eletrificação híbrida mais leve, na qual um motor elétrico serve como auxiliar. Com essa solução, a empresa manteria o preço final acessível a um maior número de consumidores.

A hibridização pesada, ou seja, com o motor elétrico capaz de sozinho movimentar o veículo, ficará para uma segunda etapa, enquanto os puramente elétricos devem se manter restritos a importados e ainda assim apenas para alguns nichos — a menos que uma política industrial ou tributária altere drasticamente o atual quadro do setor.

Inflação elevada pode anular queda do IPI

O CEO da Stellantis ainda não identifica grandes problemas gerados pela guerra entre Rússia Ucrania para a indústria automotiva da América do Sul. Por enquanto, ele considera que a preocupação mais imediata é o impacto de algumas mudanças nas rotas logísticas que poderiam afetar o fluxo de entregas de um ou outro componente de fornecedores de segundo ou terceiro níveis localizados no Leste Europeu.

Já o  aumento dos preços das principais commodites industriais nos últimos meses e as perpectivas de curto prazo são vistos com muita preocupação pelo  executivo. “As projeções inflacionárias precisarão ser revistas. Há dois meses ninguém poderia imaginar o barril de petróleo a 130 dólares!”

Filosa admitiu que a elevação dos preços internacionais dos principais insumos, agregada a ainda crise de abastecimento dos chips e após dois anos de pandemia, podem fazer com que a recente queda do IPI de 18,5% para os automóveis, válida desde 1ºde março, não chegue aos consumidores num primeiro momento.

“Qualquer medida que reduza a carga tributária é importante. É uma solução estrutural que merece elogio. Mas precisamos entender o contexto em que isso está ocorrendo”, afirma o executivo, que não assegura redução dos preços dos veículos para o consumidor final. O IPI menor pode, segundo ele, evitar novos aumentos, isso sim. “A Stellantis já não reajustou preços  em fevereiro”, destacou.

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Apesar das muitas dúvidas, Filosa se diz confiante ainda que as vendas de veículos no Brasil crescerão em 2022 — claro, caso uma crise global maior não decorra de eventual  prolongamento e ampliação do conflito iniciado há dez dias na Europa. Não arrisca um porcentual, porém.

As previsões da Fenabrave e da Anfavea, reveladas ainda no começo do ano, indicam avanço, respectivamente, da ordem de 4% e de 9%. “Não faltam clientes para nossos produtos, mas produção. Não sei se será mais para 5% ou para 8%. Mas crescerá [o mercado]!”.


Foto: Divulgação

 

George Guimarães
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