As projeções de que o mercado brasileiro de veículos demandará cerca de quatro anos para retomar os níveis pré-pandemia e a abrupta queda das vendas no primeiro semestre ainda não foram suficientes para paralisar ou cancelar o desenvolvimento e os muitos testes que são necessários para que um veículo chegue às ruas.

“Posso dizer que 75% dos projetos foram apenas desacelerados no segundo trimestre. Até porque as montadoras precisam se preparar para o mercado pós-pandemia e é mais fácil para elas concluir do que engavetar um projeto que está 60% ou 70% desenvolvido”,  revela Fernando Silvestre, diretor-presidente da Idiada no Brasil, multinacional de serviços de design, engenharia, testes e homologação.

O executivo enfatiza até que muitos projetos que imaginava adiados para 2022 devem ser mesmo finalizados em meados do ano que vem.Trata-se de boa dica de como a indústria vê, de fato, suas atividades e o mercado no curto prazo, apesar das estimativas públicas sombrias.

Outro sinal importante é a própria movimentação da Idiada, que acaba de inaugurar sua quarta unidade no Brasil, onde chegou há exatos 10 anos. O mais recente laboratório do grupo foi instalado em Itatiaia, RJ, e se destina ao desenvolvimento, local e global, de powertrain de veículos leves e pesados e testes de emissões de motores flex, gasolina e diesel.

Fernando Silvestre, Idiada

Silvestre: estudos para uma quinta unidade no Brasil.

Certificado pela Cetesb, o novo laboratório — boa parte dele original de estrutura da vizinha Jaguar Land Rover, também parceira na nova estrutura — tem célula para análises de gases de escape, medição de massa de particulado e número de partículas, e determinação de emissão evaporativa.

E talvez o mais relevante para muitos veículos que estarão nos showrooms em anos próximos: dispositivos de medição específicos para híbridos e elétricos.

A Idiada, empresa de 30 anos, 2,5 mil funcionários em todo o mundo  e capital nas mãos do governo da Catulunha (20%) e da holding Applus (80%), dispunha de escritórios em São Bernardo do Campo, SP — o primeiro, inaugurado em 2010 —, Betim, MG, e Resende, RJ, dedicados a design, testes de durabilidade, de segurança e outros serviços de engenharia e validação.

Chegou ao Brasil muito em decorrência dos trabalhos que já prestava para montadoras asiáticas e europeias que aportaram aqui nos anos 90 e na década seguinte, as chamadas newcomers.

A decisão de ter o primeiro laboratório de powertrain, assegura Silvestre, já fazia parte da estratégia inicial da empresa de ter o maior leque possível de serviços para atender, a partir do Brasil, as operações latino-americanas da quase totalidade das montadoras, clientes também em outros 22 países.

O martelo, porém, foi batido mesmo entre 2016 2017, com a perspectiva da atualização de várias normas para os veículos nacionais. De acordo com o executivo, em nenhum momento, apesar da atual crise global, os investimentos em Itatiaia foram revistos. Diferente de 2015, ano também de forte descréscimo dos negócios.

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“Tivemos de nos readequar àquele momento”, recorda o presidente da operação brasileira, responsável agora por cerca de uma centena de profissionais, a maioria engenheiros e técnicos, alguns com atuação até mesmo dentro das montadoras, a depender do serviço.

Prevaleceu a visão de longo prazo, como deve ocorrer novamente caso se concretize a postergação das próximas etapas do Proconve pleiteada pela Anfavea e que, no entender de Silvestre, pode representar mais uma pedra momentânea no caminho dos planos da empresa para o País.

A Idiada estuda, por exemplo, uma quinta unidade para atender os polos automotivos do Sul ou do Nordeste. Ainda assim, a preocupação mais imediata é outra: “A prioridade dos próximos dois anos é o crescimento da estrutura que temos hoje. Algo que deve ser revelado em mais uns seis meses”.


Foto: Divulgação

George Guimarães
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